terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Partos pelo mundo

Compartilho com vocês esta reportagem muito interessante da revista CRESCER.


PARTOS PELO MUNDO

A população mundial chegou a 7 bilhões no fim de outubro de 2011. Mas cada gravidez e cada parto continuam sendo únicos para a mulher, não importa onde ele aconteça. CRESCER reuniu dados curiosos e ouviu histórias de diversos países para contar como é a realidade, a cultura e a emoção da chegada do bebê. Afinal, mãe é tudo igual, mas o endereço muda bastante coisa no final das contas!


Cíntia Marcucci. Ilustrações Ni


Ilustração: Nik
Foi no dia 31 de outubro de 2011 que a ONU (Organização das Nações Unidas) anunciou que havíamos atingido o número de 7 bilhões de pessoas na Terra. E começou então uma concorrência entre vários países para saber onde havia nascido o bebê símbolo desse marco histórico. Seria Danica, menina de Manila, das Filipinas? Ou Piotr, menino russo, de Kaliningrado? Sem uma definição oficial da entidade, como houve em 1987 e em 1999, ao atingirmos 5 bilhões e 6 bilhões, alguns países acabaram por ter o seu próprio representante da data.

Mas o que muda se esse bebê é russo, filipino, ou se nasceu na África, na América do Sul ou na Europa? No sentimento de cada mãe e pai, pouca coisa. Afinal, a chegada de um filho é motivo de orgulho, de alegria e de emoção, seja no idioma e na cultura que for. Já em termos culturais, o endereço, ou melhor, a latitude e a longitude, fazem toda a diferença. Então, vamos chamar esse tal bebê simplesmente de Bebê. Se ele for brasileiro, por exemplo, muito provavelmente nasceu por meio de uma cirurgia cesariana. O Brasil é o país com maior taxa de partos cesáreos no mundo, com um índice que chega a 52% do total de nascimentos (de acordo com reportagem publicada em 20 de novembro pelo jornal Folha de S.Paulo, usando informações da Datasus). Quando se fala apenas da rede particular, chega a 84,5% – dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), de 2008.

Fosse Bebê uma menina brasileira, ninguém estranharia se as orelhas tivessem brincos. Já na Inglaterra, isso nem passa pela cabeça da maioria dos pais. Bebê podia até receber olhares tortos na rua. “Os ingleses acham que furar as orelhas é um tipo de mutilação e as meninas só fazem isso depois de mais crescidas. Além do mais, bebês com orelhas furadas são mais comuns nas classes sociais menos favorecidas”, contou a espanhola Rebeca Julio, mãe de Adrián, 1 ano e 5 meses, que vive e teve seu filho em Londres.


México e Itália têm 40% de taxa de cesáreas. Já na Noruega é de 16% e na Bolívia, 19%, segundo o Unicef. A Organização Mundial de Saúde recomenda entre 10% e 15% o número de partos cirúrgicos

 Dois iguais

Bebê teria mais chance de nascer junto com outro bebê na África Central. Em Benin, por exemplo, a taxa de gêmeos é de 27,9 por mil, quando a média mundial é de 16 por mil nascimentos. O dado é de um estudo feito em colaboração entre um cientista holandês e um britânico, publicado em outubro no periódico Plos One. Já na Ásia e na América Latina é mais difícil irmãos dividirem o espaço no útero: a média nessas regiões é de oito gêmeos para cada mil nascimentos.

Agora, sempre existe a chance de estar tudo preparado, mas alguém furar a fila. E se Bebê fosse um desses apressadinhos, teria boas chances de ser norte-americano. Nos Estados Unidos, a taxa de prematuros (nascidos antes da 37ª semana) é de 12,7%, de acordo com dados do governo do país divulgados em 2009. Aqui no Brasil o índice é de 6,7% (Datasus, 2008).

Lá, Bebê provavelmente teria um chá de bebê, mas com o nome em inglês, baby shower. E você sabia que não é em todo lugar que as novas mães recebem presentes antes de o bebê nascer? Há povos que só não fazem a festa, há outros em que dar um presente antes do bebê nascer é considerado de mau gosto ou que atrai má sorte. Isso ocorre na Grécia, por exemplo. E em várias regiões não se visita os bebês na maternidade. “Aqui na Inglaterra assim que o bebê nasce quem cuida é a mãe. Não tem isso de ficar no berçário, receber visita na maternidade. Até porque, se está tudo bem e o parto foi normal, a mulher e o bebê voltam no mesmo dia para casa”, explica Ana Livia Karagiannis, uma brasileira que vive desde 1994 em Londres, onde teve seus dois filhos, Nina, 10 anos, e Nicolas, 11, e trabalha como intérprete de português. Ela, inclusive, faz interpretação de pré-natal e parto e já acompanhou o nascimento de mais de uma dúzia de filhos de brasileiras, portuguesas e angolanas. Esse serviço é gratuito para as mulheres, quem paga é o governo inglês e, mesmo que se tenha um marido ou parente que fale inglês fluente, se a mulher não fala, eles preferem ter um intérprete para que o lado emocional não interfira na comunicação.

No caso de um parto normal e sem complicações, se Bebê fosse inglês, espanhol ou australiano, por exemplo, quem o ajudaria a vir ao mundo não seria um médico obstetra, mas sim uma “parteira”. Chamadas de midwifes, em inglês, e comadronas, em espanhol, são enfermeiras especializadas em obstetrícia que só chamam os médicos em caso de real necessidade e urgência, como quando é necessária alguma intervenção ou a cesariana. Como a maioria dos partos nesses paí-ses é feito na rede pública de saúde, quem atende as grávidas é a equipe de plantão, como é feito aqui no Sistema Único de Saúde, e não como é no nosso serviço particular, em que o obstetra que faz o parto é o mesmo que acompanha toda a gestação. E, inclusive, as consultas são feitas com os médicos que estão na escala de trabalho do dia da consulta e não sempre com um mesmo profissional. Viu só como um endereço no mapa-mundi pode mudar muita coisa?


Na Inglaterra, a taxa de nascimentos em casa é de 2,7% e o sistema de saúde público cobre os custos de um parto domiciliar. A Holanda é o país com mais nascimentos desse tipo: 24%.



Amamentação para todos


O primeiro e único alimento que o bebê deve receber até os 6 meses de idade é o leite materno, tenha ele nascido aqui ou na China. É isso o que recomenda a Organização Mundial de Saúde. Tanto que, para as mães que não podem amamentar, foram criados os bancos de leite materno. O primeiro do mundo começou a funcionar em Viena, Áustria, em 1900, e o segundo em Boston, EUA, dez anos depois.


No Brasil, eles existem desde 1943, com o primeiro no Rio de Janeiro. De lá para cá, o país se tornou referência nesse assunto: temos hoje 203 bancos de leite humano e a nossa rede foi reconhecida como a maior e mais complexa do mundo pela OMS Saúde por meio do Prêmio Sasakawa, conferido em 2001. As nossas equipes técnicas ajudam, inclusive, a implantar bancos em diversos países, como Angola e Nicarágua.


Mesmo com tudo isso, a média de aleitamento exclusivo por aqui ainda está bem abaixo do ideal, de apenas 2,2 meses, de acordo com dados da própria OMS, de 2009. “Só 10% dos bebês recebem aleitamento exclusivo até os 6 meses e 23% chegam até o quarto mês. Ainda é pouco tempo”, diz Luciano Borges Santiago, presidente do departamento de aleitamento materno da Sociedade Brasileira de Pediatria. Na Suécia, 12,3% são amamentados até pelo menos os 6 meses, segundo a OMS.


Em alguns países não é natural que se amamente em público. Este ano, uma britânica foi expulsa de um ônibus por amamentar e casos semelhantes já ocorreram nos Estados Unidos. Já na Espanha, a maioria das pessoas não vê problema quando a mãe precisa alimentar seu filho. Aqui, embora alguns casos isolados tenham provocado polêmica e manifestações este ano, para a tranquilidade das mães e dos bebês há bastante tolerância para o aleitamento em locais públicos.


Fontes: Alejandra Panizzo, argentina; Ana Livia Karagiannis, brasileira que mora em Londres, Inglaterra, é intérprete de parto; Anna Werner, australiana; Jane Sandall, professora de ciências sociais e saúde da mulher do King’s College, de Londres, Inglaterra; Leticia Mato, uruguaia; Valeria Seco, uruguaia que nos ajudou com tradições e histórias de seu país; luciano borges santiago, presidente do departamento de aleitamento materno da sociedade brasileira de pediatria; Rebeca Julio, espanhola, mora em Londres